Entrevista

GESTOR – O PONTO ESTRATÉGICO


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Tecnologia Assistiva: Podcast do Artigo
Locução: Lunna Mara

SR: Conte um pouco da sua trajetória profissional.

Eline Reis Bastos: “ Bióloga, vim do Rio de Janeiro para assumir a SEEDF, trabalhei no CEd 2 de Sobradinho (Magistério), onde me encantei por educação. Fui coordenadora, supervisora, vice-diretora e cheguei a gestora, onde me encontrei profissionalmente. Fiz especialização em Gestão Escolar pela UNB , me considero uma bióloga que se encantou por educação. Estou há mais de 10 anos como gestora da mesma instituição de ensino, CEF 07 Sobradinho 2 – Brasília DF.”

SR: Neste período em que ocupa o cargo de gestora de uma escola pública, CEF 7 de sobradinho DF . Quais foram os grandes desafios?

Eline Reis Bastos: “Quebrar paradigmas, porque encontrar um grupo que já está há muito tempo na mesma escola é um desafio, você chega trazendo a sua história, o seu pensamento. É preciso ter tranquilidade para que as pessoas entendam o seu pensamento.”

SR: Qual sua perspectiva para sistema educacional brasileiro?Qualidade,educação mediada por tecnologia, IDEB…

Eline Reis Bastos: “Estamos aquém em relação a outros países mas temos avançado muito, não temos parado, a base não para mesmo com entraves do governo, vamos alcançar a excelência em qualidade, o que estamos vivendo agora, antes de pandemia e depois de pandemia… é um divisor que não tem mais volta, o professor teve que se reinventar, tudo se reinventou e isso engloba as tecnologias e é um avanço muito grande, recentemente saiu o resultado do IDEB e as escolas do Distrito Federal conseguiram atingir as metas em todas as categorias, às vezes não percebemos mas tem caminhado, quebrou-se o paradigma de que escola é só ler e escrever, eles estão tendo outro tipo de conhecimento, há um crescimento da cidadania fantástico..”

SR: O CEF 7 de Sobradinho pode ser considerada ao pé da letra uma escola inclusiva?

Eline Reis Bastos:  “Pode! Eu não tenho dúvida. Cada vez que um novo professor, um novo pai, um novo aluno chega a gente consegue fazê-lo entender  que aqui é uma escola inclusiva. Foi um processo longo mas que também não tem volta, já faz parte da personalidade, da identidade da escola, não tem como fugir, o CEF 7 é referência.”

Estamos aquém em relação a outros países mas temos avançado muito, não temos parado, a base não para mesmo com entraves do governo, vamos alcançar a excelência em qualidade…

SR: Entre os alunos diagnosticados, quais são as principais deficiências?

Eline Reis Bastos:  “ Deficiência Intelectual e Autismo…”

SR: Como é ser gestora de uma escola conhecida como referência no atendimento educacional especializado?

Eline Reis Bastos:  Responsabilidade muito grande, nós já tivemos momento de ter fila para fazer matrícula na escola por ter a Sala de Recursos como referência e não ter essa vaga para oferecer, somos procurados pelos pais, pela Gerência de ensino, pela SEEDF… é uma responsabilidade muito grande mas que também é muito gratificante saber que aqui se iniciou um trabalho e que ele tem sido feito e que é referência para outras escolas, para os pais, para a família, aqui é considerado o cognitivo, o emocional, o acolhimento o lidar com essa criança. Ver a mudança no profissional, no aluno, na família é muito gratificante.”

SR: Você é gestora do CEF 7 desde que foi implantada uma metodologia diferenciada em plataforma de atendimento para os ENEE,s na Sala de Recursos. Como você percebeu a mudança de atendimento na época?

Eline Reis Bastos:   “ A implantação foi uma loucura, meus professores que atuavam na sala de recursos na época vieram com uma história de joystick, caneta óptica e eu acreditei, e foi surpreendente, foi a primeira vez que vi tanto um aluno com NEE e um aluno dito normal se encantar, não tem como não aprender ou se encantar, isso para época em Sobradinho 2 era o auge da tecnologia, um datashow virado de cabeça para baixo…uma mesa de fórmica branca…e foi uma surpresa para aquele grupo de alunos, e todo os alunos da escola queriam ter aula ali e ficavam chateados de ser apenas para os ENEE’s, sair da chatice da sala de aula, das quatro paredes, do caderno, dos planejamentos, depois as coisas foram se aperfeiçoando, os professores que ali estavam tiveram que se dedicar muito, estudar e se reinventar, e compreender o que tinham inventado e tiveram base para convencer os outros colegas. Foi um grande salto para educação, não havia em lugar nenhum a ideia daquele trabalho.”

Hoje vemos alunos que foram para o ensino médio, fizeram vestibular, faculdade, se formaram.”.

SR: Que fatores foram relevantes para você investir e apoiar as mudanças?

Eline Reis Bastos:  “ Acreditar. Acreditar que é real o direito do aluno. Acreditar que é real o dever do professor com este aluno. Acreditar que temos a capacidade de melhorar a qualidade de vida deste aluno. E principalmente acreditar nos profissionais que estavam ali, os profissionais da sala de Recursos naquele momento me convenceram, me mostraram, me provaram que era possível, acreditei e confiei na competência destes profissionais.”

SR: As mudanças estruturais, arquitetônicas e metodológicas vieram acompanhadas de mudanças pedagógicas?

Eline Reis Bastos: “ Vieram, mesmo com a resistência de todo grupo porque o novo sempre assusta, tivemos que fazer mudanças estruturais nas coordenações, os professores tiveram que passar por constantes formações para que além da mudança estrutural tivesse o convencimento do professor, dos funcionários e servidores já que era necessário a mudança de comportamento de todos diante do novo que era fazer a inclusão destes alunos, e este trabalho precisa ser relembrado diariamente, relembramos que estamos em uma escola inclusiva, que precisamos rever conceitos, é uma mudança de comportamento.”

SR: Como gestora como você vê que tais mudanças influenciaram a vida escolar e familiar do ENEE?

Eline Reis Bastos:Hoje vemos alunos que foram para o ensino médio, fizeram vestibular, faculdade, se formaram. Existe a preocupação da escola e dos professores da Sala de Recursos em acompanhar este aluno quando ele sai. Acompanhamos há mais de 10 anos e vemos mudança na qualidade de vida.”

SR: Quais mudanças foram relevantes neste processo?

Eline Reis Bastos:Quantidade e qualidade do AEE. O interesse da família em trazer o aluno em horário contrário para atendimento. Qualidade cognitiva do ENEE que consegue chegar ao final do ano com alegria de ter conseguido realizar. O aluno é ciente de suas limitações mas sabe que é capaz de conseguir, de seguir com sua vida acadêmica. As avaliações são adequadas e devido a rotatividade de professores precisa ser constantemente trabalhada com os mesmos, é uma deficiência do sistema educacional, o professor entende a necessidade e a legitimidade da adequação mas muitas vezes não sabe como fazer.

SR: O CEF 7 é uma escola inclusiva. Você a considera também colaborativa?

Eline Reis Bastos: “Considero sim! Todos abraçam a causa, isso é um ponto forte da inclusão, cada um tem sua forma de abraçar, uns mais, outros menos… mas no geral todos colaboram a sua maneira, todos são engajados, os vigilantes acompanham a família, localizam o aluno, se dedicam. São os anjos da guarda.”

SR: Depois de 10 anos de tantas modificações você percebe que a efetivação da inclusão entrou no DNA da escola ou ainda existem barreiras a serem removidas?

Eline Reis Bastos: “Sem dúvida entrou. A saída de alguns profissionais deu um desfalque, era necessário mais tempo para os mesmos profissionais que iniciaram, que deram origem terem ficado um tempo maior, a escola teria mais aprendizado, mas valeu, vão chegar novos profissionais que terão que trabalhar da mesma forma, com a mesma metodologia, eu acredito que nestes 10 anos houve muito aprendizado, quem chegar vai se encantar com a metodologia, com a forma de trabalho, a cada dia se aperfeiçoa mas não volta mais atrás, não tem volta.”

SR: Como a história da Sala de Recursos do CEF 7 é percebida na autonomia/ desenvolvimento dos alunos que por ali passaram?

Eline Reis Bastos: “Os alunos sentem saudades, sentem agradecimento. Pelos profissionais, pela escola, pelos colegas, sempre que podem retornam alunos e famílias, o sentimento é de gratidão, estão todos seguindo melhor.”

SR: Para finalizar, há alguma declaração?

Eline Reis Bastos: “Tenho admiração pelos profissionais que estavam na Sala de Recursos do CEF 7 quando tudo começou, eles me ensinaram, e eu tenho este compromisso de enquanto estiver gestora não deixar aquela sala morrer, lutar anualmente na modulação, manter a qualidade dos recursos, manter a alimentação durante os atendimentos, porque eles foram um grande exemplo, uma referência. Eu fico muito feliz de saber que eles ainda estão por ai em diversas regionais e escolas compartilhando conhecimento.”

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