Entrevista

Uma banda excepcional, uma vida extraordinária.

Entrevista

João Daniel e Eduardo Simões


João Daniel: Depois de ter conquistado os palcos das principais casas de show e festivais de Brasília com as bandas “Time Out” e “Good Time” como o Brasília Capital Moto Week, Na Praia (Abertura do show do Capital Inicial), Festival “Vibrar” com Paralamas do Sucesso e ganhar até documentário na Netflix Youtube (Os Originais), o cantor João Daniel partiu para um projeto individual que sempre sonhou em fazer, cantar trilhas sonoras de animações e fazer muito Rock. Com esse sonho nasceu a banda Hey Johnny!

“A Vida Não é Assim”


RESUMO:

O autismo, uma condição que influencia a maneira como as pessoas se relacionam, comunicam-se e percebem o mundo ao seu redor, não é uma barreira para a expressão artística e a busca pela felicidade plena. João Daniel, um talentoso artista que já percorreu os palcos de Brasília com as bandas “Time Out” e “Good Time”, transcende as limitações do autismo, provando que a música é uma forma universal de comunicação.

Ao ganhar destaque, inclusive sendo tema de um documentário na Netflix chamado “Os Originais”, João Daniel encontrou novos caminhos em sua jornada musical. Agora, ele dedica seu talento a cantar trilhas sonoras de animações e a explorar o universo do Rock, culminando na formação da banda “Hey Johnny”. Este novo projeto não apenas evidencia a paixão de João Daniel pela música, mas também destaca a capacidade de superação e realização pessoal que o autismo não consegue deter.

Um aspecto fundamental desse relato é a conexão amorosa entre Eduardo Simões e seu filho, Eduardo. Nesta entrevista conduzida por Eduardo Simões, pai dedicado e observador atento, somos presenteados com um olhar profundamente pessoal sobre João Daniel. Eduardo, ao traduzir com esmerada competência as características e sentimentos de seu filho, proporciona uma perspectiva única sobre a importância da família no processo inclusivo. A narrativa de João Daniel, com o suporte e compreensão de Eduardo, ressalta que o autismo não é uma limitação para a busca da felicidade e da realização artística. Pelo contrário, é uma jornada que destaca a importância do apoio familiar e da aceitação, oferecendo um exemplo inspirador de como a música pode transcender as fronteiras do autismo, criando uma plataforma onde todos, independentemente das diferenças, podem se conectar e compartilhar a alegria da expressão artística.


SR Sala de Recursos Revista:

Para começarmos nossa conversa, gostaríamos muito de saber quem é o João Daniel?

João Daniel e Eduardo Simões:

João Daniel é um jovem autista de 18 anos, amante de vídeos de animações e que adora cantar. É vocalista da Banda Hey Johnny e com sua contagiante alegria tem cantado e encantado em diversos espaços e palcos por onde se apresenta. Com um repertório que vai do Rock nacional e internacional a diversas trilhas sonoras de filmes de animação, João Daniel usa sua presença nos palcos para também combater o preconceito e se comunicar através da música.

SR Sala de Recursos Revista:

Em uma entrevista que acompanhei João Daniel disse uma frase impactante “o autismo nunca o impediu de cantar”. Como e quando esse talento foi descoberto?

João Daniel e Eduardo Simões:

O autismo pode trazer dificuldades para você se comunicar, mas não impediu ele de cantar, quando canta ele se transforma. Ele que descobriu o próprio talento, assistia os filmes e começou a cantar as trilhas sonoras, você tem que desenvolver muito do canto para fazer o que João faz naturalmente, na intuição. Ele nasceu com isso, tem dom.


SR Sala de Recursos Revista:

As músicas das animações da Disney, Pixar e DreamWorks contribuíram para que ele desenvolvesse a fala. Podemos considerar a música a forma de comunicação preferida por ele? Qual a mensagem que ele passa?

SR Sala de Recursos Revista:

A Banda tem uma música autoral belíssima a qual João deu o nome “A vida não é assim”. Essa música foi feita para ele? Ela captou o sentimento dos autistas?

João Daniel e Eduardo Simões:

A vida não é assim” é uma frase que João sempre fala repetidamente, e a frase acabou sendo incluída na música pois ela foi feita para o João. A música captou o sentimento dos autistas e também de Brasília, fala não só das questões dos autistas, mas da questão da diferença. Sabe lá o que seria se todos fossem iguais? A grande mensagem é que todos somos diferentes e cada um tem a sua performance e seu jeito.

A vida não é assim(Giovanni Senna)

Sabe

Hoje eu tive um sonho

Parece meio confuso

Mas vou te contar

Ufa


Não era um pesadelo

Apesar das incertezas

Que a vida nos traz

“A vida não é assim”

Tão boa ou tão ruim

Sonho

Que estou num quadradinho

Que era um deserto uns anos atrás

“Brother”


Para onde estou andando?

Todas essas quadras parecem iguais

Custei e me encontrar

Para alguns pareço perdido

É que ninguém é igual

Sabe lá como seria a vida…

SR Sala de Recursos Revista:

Atualmente o que ele tem estudado e quais terapias tem feito para estar sempre melhorando sua qualidade musical?

João Daniel e Eduardo Simões:

As terapias envolvem bateria e aula de canto cuja professora é a Backing Vocal dele na banda. A música ajuda muito na interpretação, é importante estar ali trabalhando a música, o treino é a grande evolução.

SR: Sala de Recursos Revista:

O repertório da banda é bem diversificado, tem The Commodores, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Phill Collins e ele até já cantou com a Orquestra Sinfônica de Brasília. Com um repertório tão rico imagino que exija muitos treinos, me conte como é feita a escolha das músicas e como ele se organiza nessa rotina de ensaios.

João Daniel e Eduardo Simões:

O repertório é escolhido pelos músicos, pelo João e pelos pais do João. Os ensaios acontecem rotineiramente toda segunda-feira e são muito importantes para estarem bem preparados para os shows, é uma banda profissional e respeita o público. Pode acontecer dele se perder por um curto espaço de tempo durante a apresentação, mas ele capta e sabe entrar novamente, é sensacional. A rotina de ensaios é importante para não perder essa mágica. A música tem que estar no tom, tudo certinho e o público gostar.

SR Sala de Recursos Revista:

Qual o sentimento que João transmite quando pisa no palco?

João Daniel e Eduardo Simões:

Alegria. Na hora do ensaio ele é bom, mas na hora do show ele cresce. Quando ele entra no palco os olhos brilham e é uma felicidade total. Aos 16 anos ele concorreu na escola em um concurso de música, muitos colegas que concorreram cantavam muito bem, na hora da apresentação por ser autista ele não se preocupou com o público que assistia, ficou muito tranquilo, os colegas ficaram muito nervosos e não conseguiram cantar bem… João ganhou o concurso

“O autismo pode trazer dificuldades para você se comunicar, mas não impediu ele de cantar, quando canta ele se transforma…

Eduardo Simões

SR Sala de Recursos Revista:

As diversas apresentações, entrevistas e mídias da banda têm contribuído para divulgar, além do público e notório talento artístico que é a proposta de trabalho de vocês, a questão inclusiva. Como vocês da banda veem essa bandeira que se abre para a sociedade trazendo informações sobre o autismo e contra o capacitismo?

João Daniel e Eduardo Simões:

Não é porque uma pessoa é autista que ela não tem as suas habilidades, a habilidade do João para cantar é altíssima, os músicos da banda confiam no João e João confia neles, é mútuo. O recado é passado, vamos mudar o mundo, precisamos revigorar isso. Não é porque você tem um problema que ele vai repercutir em tudo na sua vida, ele tem a dificuldade da comunicação, tem a dificuldade de ter um viés social, não compreende malícia como os neuro típicos, mas tecnicamente na música é impecável. É maravilhoso mostrar ao público que eles são capazes.

João Daniel e a Banda Hey Jhonny em apresentação

SR Sala de Recursos Revista:

O talento é real. O empenho é admirável. Quais os desafios que ainda precisam ser superados? Quais os sonhos que o João Daniel ainda deseja realizar?

João Daniel e Eduardo Simões:

O sonho é superar a comunicação, melhorá-la e fazê-lo se sentir presente neste mundo para poder se defender e não ser tão inocente, isso ainda precisa ser trabalhado ao longo do tempo. A música é o que mais o motiva, quando ele está com a música ele está feliz.


João Daniel

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