Entrevista

A INCLUSÃO : É A MELHOR ALTERNATIVA SOCIAL


 


Tecnologia Assistiva – Podcast do Artigo
Locução – Lunna Mara


Em uma agradável conversa com Israel Ferreira, 28 anos, Licenciado em Língua de Sinais Brasileira – Português como Segunda Língua pela Universidade de Brasília (UnB) – vamos poder conhecer o universo de um estudante com deficiência auditiva severa, sua trajetória escolar desenhada no ensino público da capital do país e que o levou a uma das melhores universidades públicas do Brasil. Israel relata a importância dos professores intérpretes, das adequações curriculares e da Língua Brasileira de Sinais  (LIBRAS) e destaca as dificuldades que precisam ser superadas diariamente. Israel é um testemunho de que uma escola colaborativa é capaz de efetivar a aprendizagem significativa.

SR: Quem é o Israel?

ISRAEL FERREIRA: Eu tenho 28 anos, sou formado em Letras Língua de Sinais Brasileira – Português como Segunda Língua (LSB – PSL), sou professor do Instituto Lepee em São Paulo. Eu gosto de leitura, escrita, família e cachorros.

“EU APRENDI A CONVIVER COM DESAFIOS, TIVE QUE APRENDER A ME COMUNICAR” 

                                                                 ISRAEL FERREIRA:

SR: Fale sobre sua família (os cuidados, apoio, importância…).

ISRAEL FERREIRA: Eu tinha dificuldade de me comunicar em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) com a minha família, apenas utilizando gestos com ela. Meus avós não sabiam a LIBRAS e me ajudavam a buscar nas escolas públicas. Outro assunto, minha prima me ensinava a Língua Portuguesa de forma frequente e também minha irmã me ensinava a Matemática, porém elas conhecem um pouco de LIBRAS.

SR: Como foi o Israel estudante nas séries iniciais do ensino básico? (Comportamento, dificuldades, sala de recursos, intérpretes, alfabetização…).  Qual o tipo de apoio recebido? Adequação curricular?

ISRAEL FERREIRA: Nessa época, eu possuía muita dificuldade em escrever as atividades no caderno, no entanto, era auxiliado pela professora, que tinha um grande conhecimento dos sinais em Libras. Eu comecei a desenvolver a aprendizagem da Língua Brasileira de Sinais – Libras e a Alfabetização e o Letramento com as professoras da Sala de Recursos. As professoras percebiam que os surdos tinham dificuldades na leitura dos livros infantis e na escrita narrativa. Na 4 ª série, eu gostava muito de praticar a escrita da estrutura do Português de forma perfeita em sala de aula, dessa forma me esforçava muito, mas as minhas professoras, realmente, não conseguiam compreender os meus grandes textos. Sofri muito, pois não conseguia concretizar a língua escrita corretamente. 

SR: Como foi o Israel estudante nas séries finais do ensino básico? (Comportamento, dificuldades, transição de escola, sala de recursos, intérpretes, interação…).  Qual o tipo de apoio recebido? Adequação curricular?

ISRAEL FERREIRA: Tive um aprendizado proveitoso em todas as disciplinas, com o auxílio dos professores e das intérpretes de Libras. No 7º ano, tive duas professoras que gostei bastante, elas ministravam as disciplinas de Língua Portuguesa e de Matemática. Ambas me auxiliaram muito e contribuíram para o desenvolvimento do meu conhecimento. Os professores sempre se alegravam e se sentiam satisfeitos com as minhas notas, falavam sobre o meu esforço e que por conta dele eu conquistava ótimas notas, constantemente tirava 10,0 na disciplina de Língua Portuguesa.

SR:  O ensino médio foi um desafio? Qual o tipo de apoio recebido? Adequação curricular? (Comportamento, dificuldades, transição de escola, interação, sala de recursos, intérpretes…).  

 

ISRAEL FERREIRA: Tive grande dificuldade, uma vez que as matérias eram muito pesadas e eu era o único surdo da escola. Apesar disso, sempre me esforcei e nunca desisti. No entanto, na disciplina de Matemática, me faltou muito apoio do professor, haja vista que os conteúdos não eram adaptados para um aluno surdo e a intérprete parecia não possuir muita experiência. Sendo assim, por vezes as minhas notas nessa disciplina não eram satisfatórias. Em Língua Portuguesa, eu também tive grande dificuldade, os conteúdos não eram adaptados e tinham como foco que os alunos ouvintes aprendessem. A intérprete tentava ajudar, mas de forma que não acrescentava no meu conhecimento, pois me dava tudo praticamente pronto, além do que as explicações eram muito confusas, eu realmente não conseguia entender a escrita. Por essa grande dificuldade, pensei e tive que fazer algumas aulas de reforço, que aconteciam em uma outra escola: “Centro de Ensino Médio 01 de Sobradinho”. Nessa escola, eu consegui tirar todas as minhas dúvidas, as explicações dos professores que davam reforço eram muito claras e adaptadas para os alunos surdos. Por esse motivo, senti um grande desejo de mudar para essa escola no ano seguinte. Foi assim que, no ano de 2013, eu consegui a minha transferência para o Centro de Ensino Médio 01 de Sobradinho. Nessa escola, a realidade era bem diferente. Existiam outros alunos surdos, o que possibilitou que eu me comunicasse através da minha língua materna. Os conteúdos eram adaptados, a escola dispunha até mesmo de um professor surdo, que dava aulas de Matemática e Libras, e de intérpretes mais experientes. No terceiro ano, ainda nessa mesma escola, as aulas de Língua Portuguesa eram maravilhosas, a professora possuía uma excelente didática, eu conseguia realizar as atividades e conseguia entender os conteúdos de forma muito clara, alcançando os objetivos propostos.

SR: Nos conte sobre a experiência de estudar, passar no vestibular, de ser estudante da UnB? Sobre os pontos relevantes (fragilidades e potencialidades do sistema acadêmico a nível de graduação, a acessibilidade e adequações desde a prova do vestibular até o ingresso). 

ISRAEL FERREIRA: Eu fiquei muito feliz ao receber a notícia de que tinha sido aprovado no vestibular da Universidade de Brasília (UnB), no curso de Língua de Sinais Brasileira, Português como Segunda Língua (LSB-PSL). Muito me surpreendi com a realidade da Universidade, com a presença de vários estudantes surdos, vários professores surdos, até mesmo Mestres e Doutores. Todo  o  conteúdo  trabalhado no  Curso de LSB-PSL é  adaptado e  voltado  principalmente para os surdos. Durante a minha graduação, tive muito contato com professores surdos que contribuíram muito para o meu conhecimento acadêmico.

SR: Relate sobre a experiência de escrever, publicar, participar de eventos acadêmicos. Pontos relevantes (fragilidades e potencialidades do sistema acadêmico em nível de graduação e especialização).

ISRAEL FERREIRA: A experiência marcante durante a minha vida acadêmica foi o PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica), que iniciei em 2019, juntamente com a professora universitária, a qual também contribuiu e contribui para o enriquecimento do meu conhecimento. Participei ainda de alguns projetos e de várias disciplinas obrigatórias e optativas que me trouxeram rica experiência e que foram importantes para a minha formação tanto acadêmica quanto como sujeito. Participei de vários seminários e até mesmo realizei viagens, que acrescentaram um rico conhecimento e uma enorme experiência voltada para a Linguística, Tradução e Interpretação, etc.

SR: Exponha como é o mercado de trabalho para pessoas com necessidades educacionais especiais (fragilidades, potencialidades, nível de cobrança, acessibilidade).

ISRAEL FERREIRA: Poucos surdos conseguem vaga no mercado de trabalho e mesmo assim possuem dificuldades em se comunicar em Libras com as pessoas não surdas, não têm apoio de intérprete de Língua de Sinais Brasileira (LSB) e têm dificuldades com a Língua Portuguesa escrita.

SR: Você se considera uma pessoa que venceu desafios ou que aprendeu a conviver com eles?

ISRAEL FERREIRA: Eu me considero uma pessoa que aprendeu a conviver com desafios, tive que aprender a me comunicar em língua portuguesa escrita e me acostumei a fazer gestos para me comunicar em locais públicos porque as pessoas não sabem a língua de sinais.

SR: E hoje na vida adulta do Israel? Ainda existem dificuldades a serem trabalhadas?

ISRAEL FERREIRA: Ainda tenho dificuldade com o português jurídico, matemática financeira e filosofia.

 

ISRAEL FERREIRA: Licenciado em Língua de Sinais Brasileira – Português como Segunda Língua pela Universidade de Brasília (UnB). Na universidade, participei de projetos de pesquisa, atuei como monitor de diversas disciplinas e prestei trabalho voluntário em vários eventos. Tenho experiência como professor de Libras e de Português como Segunda Língua. Busco oportunidade para atuar como docente e me disponho a contribuir com a instituição.



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