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Voz – Lunna Mara
Eurípedes Neves – Mestre em Educação no Programa de Pós-Graduação – PPGE/FE/UnB da Linha de Pesquisa: Educação em Ciências e Matemática/ECMA, orientado por Dr. Antônio Villar Marques de Sá. Pós Graduado no Curso de Especialização em Ensino de Língua Portuguesa como Segunda Língua para Surdo: PSL – LSB (LIP/IL/UnB) em jun/2016. Possui também especialização em Ciências da Natureza e Matemática com Ênfase no Ensino Médio (UnB/2009). Graduado no Curso de Pedagogia para Professores em Exercício no Início de Escolarização pela Universidade de Brasília/2004. Graduado em Teologia (Bacharel) pelo Instituto Bíblico Cristocêntrico/1997. Atualmente é professor de Sala de Recursos Generalista da Secretaria de Estado de Educação-DF. Possui experiência na área de Gestão Escolar, Educação Infantil, Educação Fundamental – anos iniciais e finais, Matemática, Ciências da Natureza, Educação Especial e Teologia.
O xadrez é um jogo milenar, esteve presente nas sociedades antigas e na atualidade é conhecido e jogado por quase todos os 193 países. É considerado um esporte, uma arte e uma ciência. É um jogo de tabuleiro de caráter recreativo ou competitivo designado Xadrez Ocidental ou Xadrez Internacional. Seu uso no contexto escolar numa perspectiva lúdica (SÁ, 2013) tem sido difundido ao longo dos séculos (BRENELLI e OLIVEIRA, 2008; SÁ, 2006; SÁ, 2009; SÁ; REZENDE JUNIOR e MELO, 2013). A lógica, estratégia e tática são habilidades necessárias e desenvolvidas por praticantes de xadrez (SILVA, 2012).
Este artigo versa sobre a pesquisa de mestrado do autor (NEVES, 2017) realizada entre 2016 e 2017, onde, investigou as possíveis contribuições do xadrez à aprendizagem de dois alunos com deficiência intelectual (BATISTA e MANTOAN 2006), do 8º ano do Ensino Fundamental do Distrito Federal.
Os roteiros de entrevistas e planejamento das oficinas nortearam a coleta das informações apresentadas, discutidas, analisadas e aferidos os resultados onde verificou que a prática do xadrez foi lúdica, prazerosa e significativa. Os discentes desenvolveram habilidades, aprendizagens cognitivas e socioafetivas no contexto escolar e fora dele, articulando e utilizando táticas, envolvendo a exploração do raciocínio, na ação de aprender e jogar xadrez em nível principiante (SÁ, 2016).
As respostas assinaladas na pesquisa evidenciaram a autopercepção dos estudantes em relação ao objeto de sua prática. Segundo Vygotsky (1998b, p. 202) “tudo o que as crianças não podem fazer de forma independente” aprendem por imitação. Ou seja, “todas as formas de atividade de determinado tipo realizadas pela criança […] em cooperação com adultos ou com outra criança” e inclui “tudo o que a criança não pode fazer de forma independente, mas que pode ser ensinado ou que ela pode fazer sob a direção ou em cooperação ou com a ajuda de perguntas-guia” (VYGOTSKY, 1998b, p. 202). É imperativo esclarecer que o estudante com deficiência intelectual (BATISTA e MANTOAN, 2006) aprende com estímulos, motivações e com a adequação de procedimentos didáticos pedagógicos adaptados ao seu nível de compreensão, levando-se em conta a interação, a cooperação ou a ajuda de perguntas-guia1.
Por esse e demais procedimentos foi possível verificar a relação dessas habilidades enquanto jogavam xadrez e saber onde eles as aplicavam em outros contextos. Algumas observações são específicas, mas dizem respeito ao ato integral de jogar ― o antes, o durante e o posterior às jogadas. Esse conjunto de ações ou de uso dessas habilidades se relacionava às táticas, estratégias e internalização das regras do xadrez. Eles proferiram que a atenção ocorria ao: “Olhar onde joga a peça para o adversário não capturar ela”. Esse e os demais procedimentos são inerentes à estratégia de movimentação ofensiva ou defensiva. E tal comportamento se liga a outros como um conjunto de ações cerebrais instantâneas e cíclicas, sucedendo simultaneamente o tempo todo.
Esse contingente de ações consta entre as principais funções realizadas pelo sistema nervoso: cognitivas, motricidade e equilíbrio, sensibilidade, sentidos e controle do meio interno. E, além dessas, as mais complexas são atribuições do cérebro, realizadas dentro do sistema nervoso central. Assim, cooperando para a eficiência e destreza do enxadrista que precisa se “concentrar”: ― “Olhar bem o tempo todo onde o outro joga e pra onde colocar as minhas peças”. Tem haver com “julgamento”: ― “Se quero jogar com as pretas ou brancas. Se vou sair com os peões ou os cavalos. Quando sair com peças fortes” e planejamento: ―“Como jogar o xadrez”.
“O cérebro, como estrutura mais desenvolvida e complexa dentro do SNC, tem as atribuições mais complexas dentre as supracitadas, incluindo projeção sensorial e cognição, planejamento e iniciação de movimentos voluntários, processos mentais complexos (pensamento, raciocínio), compreensão e expressão da linguagem, memória e aprendizagem, experiências emocionais e motivacionais. (MAIA, 2012, p. 21).
Quando “D” extrapolou o ato de “julgar” para outro contexto, extrajogo, se expressou assim: ―“Decidir a hora de fazer coisas de casa, da escola. Fazer escolhas certas para não mexer com drogas, não brigar e nem roubar”. Saiba mais sobre essa pesquisa na dissertação de mestrado.
Notas
- Leia a Dissertação de Mestrado de Eurípedes R. Neves em: http://repositorio.se.df.gov.br/handle/123456789/986 e https://bdtd.ibict.br/vufind/Record/UNB_a4db09bd49a651c1a93bb4ba618473f7
- Perguntas-guia é um conceito cunhado por Vygotsky, compondo a premissa da imitação, que consiste, a priori, em fazer indagações que encaminhe ou direcione o aprendente a raciocinar com foco na resposta ou definição/conceito a ser internalizado, aprendido. Este conceito, incorporado à práxis do autor antes, durante a pesquisa e nos atendimentos em Sala de Recursos. Abordaremos mais sobre perguntas-guia num próximo artigo.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS
BATISTA, Cristina Abranches Mota; MANTOAN, Maria Teresa Egler. Educação inclusiva: atendimento educacional especializado para a deficiência mental. 2. ed. Brasília: MEC, SEESP, 2006.
BRENELLI, Rosely Palermo; OLIVEIRA, Francismara Neves de. O jogo xadrez simplificado de diagnóstico da perspectiva social e cognitiva escolares. Ciências e Cognição, Rio de Janeiro: v. 13, n. 2, p. 109-124, 2, jul. 2008.
MAIA, Heber; THOMPSON, Rita. Cérebro e aprendizagem. In: Neurociências e desenvolvimento cognitive. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, v. 2, 2012. p. 19-30.
NEVES, Eurípedes Rodrigues. A prática do xadrez no contexto escolar e a aprendizagem de alunos com deficiência intelectual., il. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Brasília, Brasília, 2017.2017. 174 f.
PORTAL DO PROFESSOR – MEC. Entrevista a Antônio Villar Marques de Sá: O enxadrismo contribui para o desenvolvimento de várias capacidades e habilidades. Jornal do Professor: Xadrez na Escola – MEC. ed. 124, 25 abr. 2016. p. 1-3. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/>. Acesso em: 19 mar. 2017.
SÁ, Antônio Villar. Marques de. . Contribuição do xadrez para o desenvolvimento escolar. In: CALLEROS. Carlos. Xadrez: introdução à organização e arbitragem. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006. p. 111-123.
SÁ, Antônio Villar. Marques de. História do xadrez. In: CALDEIRA, Adriano. Para ensinar e aprender xadrez na escola. São Paulo: Ciranda Cultural, 2009. p. 11-20.
SÁ, Antônio Villar Marques de; REZENDE JÚNIOR, Luiz Nolasco de; MELO, Wellington Aguiar. Benefícios lúdicos e pedagógicos do xadrez. In: SÁ, Antônio Villar Marques de. et al. (Org.). Ludicidade e suas interfaces. Brasília: Liber Livro, p. 265-281, 2013.
SILVA, Wilson. (Org.). Xadrez e Educação: contribuições da ciência para o uso do jogo como instrumento pedagógico. Curitiba: UFPR, v. 1, 2012.
VYGOTSKY, Lev Semyonovich. The problem of age (HALL, M. Trans.). In: RIEBER, Robert W. (Eds.), The collected works of VYGOTSKY, Lev Semyonovich: Child psychology. New York: Plenum Press. v. 5, p.187-205, [1933, 1934] 1998b.
As descrições das figuras a seguir referem-se às oficinas xadrez durante a pesquisa de mestrado do autor e do uso de xadrez no atendimento aos alunos com necessidades educacionais especiais em Sala de Recursos generalista.
As imagens 2, 3 e 4 são fotos do arquivo pessoal do autor tiradas durante a realização de oficinas de xadrez dos dois alunos com deficiência intelectual participantes da pesquisa de mestrado realizada no CEF Queima Lençol de sobradinho – DF. Onde foram instruídos a jogar xadrez em nível iniciante durante cem encontros de uma hora cada enquanto o pesquisador realizava as anotações sobre a utilização das 17 habilidades ao jogar e a incidência delas nos demais contextos. a Figura 5 descreve o atendimento ao aluno, TEA – Autismo, comemorando seu aprendizado e a primeira vitória contra seu professor instrutor da Sala de Recursos Generalista durante o ano de 2017.
Como citar:
NEVES, Eurípedes Rodrigues. Contribuições do xadrez à aprendizagem de alunos com deficiência intelectual (Parte 1). In: Revista Sala de Recursos, p. 42 – 45, out. – dez. 2020. Disponível em: <http://www.saladerecursos.com.br>. Acesso: