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A IMPORTÂNCIA DA ABA: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA NAS SALAS DE RECURSOS


Tecnologia Assistiva – Podcast do Artigo
Locução – Lunna Mara
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 Maria Paula da Silva: Graduada em Pedagogia (UFRPE). Pós-Graduação “Lato Sensu” em Educação Especial e Inclusiva (FATEC). Experiência profissional: Ex Coordenadora Municipal de Educação Inclusiva – Passira PE. Ex Coordenadora Pedagógica de Ações e Projetos da APAE – Passira PE. Coordenadora de núcleo da ONG Deficiente Eficiente. Publicações: Revista Mais Educação – Publicação Acadêmica – Título do Trabalho publicado: A Intervenção do Psicopedagogo Na Inclusão De Estudantes da Educação Básica Com Transtorno Espectro Autista – Tea. Livro publicado Linguagem E Multidisciplinaridade: Textos e Contextos – Editora Nova Presença / Título do Trabalho publicado: Inclusão Escolar: Possibilidades de Aprendizagem em Tempos de Pandemia. Participação em Eventos Científicos: Jornada Do Curso De Formação Para Professores – Gepec E V Congresso Nacional De Educação – Conedu 2018. Formação complementar: Curso de Capacitação profissionalizante: ABA e Estratégias Naturalistas– Instituto Singular. Atendimento Educacional Especializado – ABBA. Curso Básico de Língua Brasileira de Sinais – Libras – UPE.

 

RESUMO

O Atendimento Educacional Especializado – AEE garante ao estudante com deficiência participação plena no processo educacional, considerando suas necessidades específicas, por meio da elaboração de recursos pedagógicos e de acessibilidade que possibilitem a aquisição da aprendizagem, eliminando as barreiras que dificultam o desenvolvimento do estudante com deficiência. A Aquisição da metodologia ABA – Análise do Comportamento Aplicada pelos profissionais que atuam nas Salas de Recursos é de suma importância para o desenvolvimento dos estudantes com necessidades específicas, principalmente autistas, pois a mesma, através das suas técnicas, elimina comportamentos indesejáveis e estimula cognição e interação social. Vale ressaltar a importância do engajamento da família nesse processo para que os procedimentos realizados tenham melhores resultados na vida da pessoa com deficiência. Não podemos pensar em desenvolvimento educacional sem a participação familiar. Em se tratando de um sujeito atípico, essa participação se faz ainda mais necessária.

 

Palavras – chave: Desenvolvimento. Cognição. Interação social. Participação Familiar.

1. INTRODUÇÃO

O presente estudo busca ressaltar a importância da aquisição da metodologia da ABA – Análise do Comportamento Aplicada pelos profissionais que atuam no atendimento realizado aos estudantes com deficiências nas salas de recursos com foco nos autistas.  A ciência da análise do comportamento aplicada, ou ABA (Applied Behavior Analysis, na sigla em inglês) conhecida também por Behaviorismo Radical é uma abordagem dentro da psicologia, que teve como principal mentor B. F. Skinner (1904-1990). É usada para a compreensão do comportamento e vem sendo amplamente utilizada no atendimento a pessoas com autismo.

A Análise do Comportamento é sustentada por um tripé: pesquisa básica – com experimentação baseada em controle de variáveis, responder a questões científicas importantes para embasar o escopo teórico; aplicada – utilizando-se dos conceitos básicos para intervir em questões sociais relevantes, teórica – que constrói os conceitos explicativos do comportamento. Dessa forma, a ABA nada mais é do que uma linha de atuação dentro da abordagem comportamental, na qual aplicamos seus conceitos teóricos e filosóficos às necessidades da sociedade. De acordo com o Manual Autism Speaks (2011), a Análise do Comportamento é a ciência que fornece conhecimentos cientificamente comprovados sobre como e por quê o comportamento ocorre.

Segundo o Manual “quando esta pesquisa é utilizada para melhorar o comportamento socialmente significativo, considera-se que é aplicada” (p. 34). Camargo e Rispoli (2013) abordam que a ABA também pode ser “definida como uma tecnologia que é aplicada em situações de vida reais, onde comportamentos apropriados e inapropriados podem ser melhorados, aumentados ou diminuídos” (RISPOLI, 2013, p.642).

Existente há mais de 50 anos, a ABA é um tratamento baseado em evidências científicas que atestam sua eficácia. Suas técnicas possibilitam ampliar a capacidade cognitiva, motora, de linguagem e de integração social do indivíduo. Procuram reduzir por meio de práticas de repetição e esforço comportamentos negativos que possam causar danos ou interferir no processo de aprendizagem, podendo auxiliar no aperfeiçoamento de habilidades básicas, como olhar, ouvir e imitar, ou complexas, como ler, conversar e interagir com o outro. A terapia ABA envolve o ensino intensivo e individualizado das habilidades necessárias para o indivíduo atípico, em especial os autistas a fim de que possam adquirir independência e a melhor qualidade de vida possível. 

Por fazer parte da psicoterapia comportamental, geralmente são os psicólogos que cuidam do programa ABA. Porém, além do psicólogo, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, professores e educadores físicos são exemplos de profissionais que atuam em equipes multidisciplinares e podem se beneficiar de um treinamento ABA, tornando-se um aplicador da terapia. Uma das características mais positivas da ABA é que ela não requer o uso de equipamentos ou ferramentas caras, o que possibilita ser trabalhada não apenas por profissionais. Ela pode ser praticada em casa, com suporte dos pais e familiares. Existem algumas medidas simples que podem ser aplicadas informalmente de maneira a reforçar o que é aprendido no ambiente “profissional” com especialistas. Portanto, o objetivo aqui é ressaltar a importância dos profissionais que atuam nas salas de atendimento educacional especializado terem conhecimento em ABA para melhor assistir o estudante com deficiência, mais precisamente com autismo. O conhecimento básico dessa ciência já traria resultados significativos para o desenvolvimento do sujeito atípico.

2. DESENVOLVIMENTO

A  Análise do Comportamento origina-se de uma posição behaviorista assumida por Skinner. Apesar da sua origem na década de 30, o termo ABA só surge a partir da década de 70 abrindo espaço para o aprofundamento de pesquisas aplicadas com autismo. Com uma abordagem mais científica, ABA é definida como um método para avaliar, explicar e modificar comportamentos baseados nos princípios do condicionamento operante introduzidos por Skinner. Na perspectiva do condicionamento operante, os comportamentos são aprendidos no processo de interação entre o indivíduo e seu ambiente físico e social (SKINNER, 1953). 

Sabe-se que o método ABA possui grande suporte científico e tem sido o método de intervenção mais pesquisado e amplamente adotado, sobretudo nos Estados Unidos, para promover a qualidade de vida de pessoas com transtorno do espectro do autismo (GILLIS & BUTLER, 2007; LOVAAS, 1987; VAUGHN et al., 2003; VIRUÉS-ORTEGA, 2010; HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007).

É notório que intervenções e métodos educacionais com base na psicologia comportamental têm demonstrado reduzir os sintomas do espectro do autismo, promovendo uma variedade de habilidades sociais, de comunicação e comportamentos adaptativos. Por apresentar uma abordagem individualizada e altamente estruturada, ABA torna-se uma intervenção bem sucedida para crianças com TEA que tipicamente respondem bem às rotinas e diretrizes claras e planejadas. (SCHOEN, 2003).

No Brasil, a análise do comportamento começou com a vinda de Fred S. Keller para a Universidade de São Paulo e Universidade de Brasília nos anos 60. O Brasil é hoje o maior centro de análise do comportamento depois dos Estados Unidos. Porém, ao contrário dos Estados Unidos que possuem diversos estudos mostrando a eficácia da ABA, sobretudo, em pessoas com autismo, aqui, no Brasil,  não há. Estes estudos buscam entender quais os conjuntos de práticas têm evidência no tratamento de autismo e quais terapias comportamentais aparecem como um tratamento com fortes evidências científicas. Outro fato importante é que aqui, no Brasil, não se exige a certificação internacional para se atuar como analista de comportamento. Há um exame de certificação internacional que atesta que um profissional (psicólogo ou não, pois além deles, qualquer outro profissional pode se pós-graduar na análise do comportamento: fonoaudiólogos, pedagogos, terapeutas ocupacionais…) têm o conhecimento necessário para atuar como analista do comportamento. Nos Estados Unidos, o comitê certificador é o BACB (Behavior Analyst Certification Board – Comitê Certificador de Analista do Comportamento), acessível a profissionais em diversos países, inclusive no Brasil. Embora amplamente conhecida como um método de intervenção para pessoas com autismo (HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007), ABA é uma tecnologia que pode ser aplicada à crianças e adultos com ou sem necessidades especiais em clínicas, escolas, hospitais, em casa, no ambiente de trabalho ou na comunidade (CAUTILLI, DZIEWOLSKA, 2008).

Sendo assim, tendo em vista seus benefícios, se faz necessário que o profissional atuante nas salas de atendimento tenha no seu processo de formação continuada a aquisição da metodologia ABA para ofertar um atendimento de melhor qualidade para os estudantes com desenvolvimento atípico, contribuindo de forma significativa para seu crescimento pedagógico e social. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – (LDBEN) – 9394/96 Art. 61, estabelece: A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e as características de cada fase do desenvolvimento do educando.

É necessário que as Instituições de Ensino possibilitem ao professor formação continuada baseada em práticas inclusivas, buscando ofertar para esses profissionais conhecimentos que visem ao aprimoramento de suas práticas de ensino para melhor atender os estudantes com deficiências e se tratando dos profissionais que atuam nas salas de recursos, vimos que a oferta de formação em ABA é imprescindível. Os espaços para oferta de atendimento educacional especializado são assegurados pelo MEC, mediante portaria n°13/2007, que dispõe sobre a criação do Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais com objetivo de apoiar os sistemas de ensino na organização e oferta do atendimento educacional especializado, de forma complementar ou suplementar à escolarização dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação já matriculados em classes comuns do ensino regular de escolas públicas de educação básica.

No processo de escolarização, sobretudo da pessoa com deficiência, é de suma importância o firmamento da parceria com a família, visto que uma criança que advém de uma família que valoriza a escola e mantém com esta um relacionamento cujo interesse é o ensino-aprendizagem, o estudante apresenta melhor desenvolvimento sócio-cognitivo e aprende mais. A parceria é importante no sentido de os pais contribuírem com a aprendizagem dessa criança realizando os estímulos necessários para o seu desenvolvimento de forma a complementar o trabalho realizado na escola. Macedo (1994, p.199) “aborda essa questão afirmando que com a participação da família no processo de ensino aprendizagem, a criança ganha confiança vendo que todos se interessam por ela, e também porque você passa a conhecer quais são as dificuldades e quais os conhecimentos da criança”.

Participando da socialização escolar, a família contribui de modo imprescindível para a vida social da criança. Ao atuar nos espaços escolares, na orientação, no direcionamento, nas regras e normas de valores, proporcionará à criança melhor desenvolvimento para a vida e convívio social. (RAMOS, 2009, p.35).

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vimos que a Análise do Comportamento é uma abordagem da psicologia comportamental “behaviorismo” que foi adaptada e é um método aplicado para identificar ou estudar as relações funcionais entre o comportamento do indivíduo e seu contexto ambiental. Dessa forma, a ABA usa essas informações para planejar intervenções buscando a melhoria do bem-estar social do indivíduo. É um processo abrangente, estruturado e contínuo de reaprendizagem. Seu objetivo é ampliar o repertório comportamental da criança. Com isso, espera-se que ela melhore a interação com outras pessoas e tenha menos dificuldades na comunicação social. O conjunto de técnicas visa, também, a diminuição de comportamentos indesejados.

Portanto, para o processo educacional de estudantes com deficiências, ressalto aqui os autistas acontecer de forma inovadora e com técnicas cientificamente comprovadas se faz necessário que as Instituições de Ensino invistam em formação continuada para os professores do ensino regular de modo que    esses adquiram conhecimentos e se apropriem de estratégias que contribuam no processo de ensino aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes com necessidades educacionais específicas. Nesse sentindo é fundamental uma atenção especial para os profissionais atuantes nas salas de recursos sendo importante a apropriação e utilização da metodologia ABA visto que melhora o desenvolvimento e aproveitamento desse alunado atípico. Método este que atua eliminando comportamentos indesejados e criando repertórios comportamentais positivos na criança. Proporcionando desenvolvimento cognitivo, interacional e de coordenação motora. Trazendo dessa Forma resultados positivos no desenvolvimento de estudantes com autismo, público crescente nas salas de Atendimento Educacional Especializado.

O Objetivo aqui não é tornar esse profissional um analista do comportamento, mas ressaltar a importância da aquisição de conhecimentos básicos metodológicos visto que os benefícios são enormes no desenvolvimento dos estudantes com deficiências podendo esses profissionais atuar em parceria com os terapeutas especialistas e em parceria com a família. Pois nesse processo é essencial a atuação e parceria da família, realizando atividades que estimule essa criança em casa. Contribuindo de forma significativa no seu processo de construção do conhecimento e desenvolvimento. Desse modo para aprendizagem em estudantes com deficiência se concretizar de forma efetiva é necessário o engajamento de todos, tanto do aluno e do professor como também da escola, dos pais e ou responsáveis.


COMO CITAR:

SILVA,  Maria Paula da. A Importância da Aba: Análise do Comportamento Aplicada nas Salas De Recursos. In: Sala de Recursos Revista, vol.2, n.2,  p.95-101,  mai – agos. 2021. Disponível  em:<http://www.saladerecursos.com.br>.

5.REFERÊNCIAS

BRASIL. Política Nacional da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília, DF, 7 de janeiro de 2008 . Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/arquivos/ pdf/politicaeducespecial.pdf>. Acesso em: 20, maio, 2014.

______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394/96, art. 61.  Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm. Acesso em: 20, maio, 2014. 

______. Portaria n° 13/2007. Dispõe sobre a criação do “Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais. Brasília: MEC, 2007. 

CAMARGO, Síglia Pimentel Höher; RISPOL, Mandy. Análise do comportamento aplicada como intervenção para o autismo:definição, características e pressupostos filosóficos. Revista Educação Especial | v. 26 | n. 47 | p. 639-650 | set./dez. 2013 Santa Maria. Disponível em: <https://www.redalyc.org/pdf/3131/313128786010.pdf>. Acesso em: 20, maio, p. 639-650, 2014.

CAUTILLI, Joseph D;  DZIEWOLSKA Halina.  Editorial sobre Licença Analítica de Comportamento: questões históricas gerais de por que as pessoas se opõem ao licenciamento e a resposta comum. SCImago Journal Rank, v. 4, n. 1, 2008

HOWARD, J. S., et al. A comparison of intensive behavior analytic and eclectic treatments for young children with autism. Research in Developmental Disabilities, v. 26, n. 4, p. 359-383, 2005. 

LANDA, R. Early communication development and intervention for children with autism. Mental Retardation & Developmental Disabilities Research Reviews, v. 13, n. 1, p. 16-25, 2007.

MACEDO, R.M. A família diante das dificuldades escolares dos filhos. Petrópolis: Vozes, 1994.

PEREIRA. Esther Cristina. Escola e família: uma parceria que dá certo. Curitiba: E. C. Pereira, 2004.

RAMOS, Paulo. A leitura dos quadrinhos – coleção Linguagem. & Ensino. São Paulo: Ed. Contexto, 2009.

Skinner, Burrhus Frederic. Verbal behavior. Englewood Cliffs, N.J. : PrenticeHall, 1957. 



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18 thoughts on “A IMPORTÂNCIA DA ABA: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA NAS SALAS DE RECURSOS
  1. Parabéns pelo trabalho , pontos muito bem colocados e informações muito ricas sobre o ABA nas salas de recursos para pessoas com deficiência intelectual e múltipla. 👏👏👏👏👏

  2. De fato, a metodologia ABA é ciência comprovada em resultados comportamentais positivos em crianças autistas. O conhecimento desse método por parte dos professores AEE só vem contribuir de forma significativa.

    1. O tema abordado é Magnífico, pois se trata de uma ciência que foi aprovada por muitos especialistas e que possue eficácia no tratamento do autismo. Parabéns pela abordagem e pelo excelente trabalho de pesquisa que só tem a contribuir para o avanço da educação inclusiva.

  3. A inclusão do aluno com necessidade especial em ambiente propício para seu aprendizado é crucial para o desenvolvimento social deste, práticas como a ABA mostram que com o empenho e adaptação para cada caso podemos trabalhar a independência e consequentemente a qualidade de vida destes. O trabalho aponta de fato o quão é essencial para o educador ter noções das metodologias da psicologia comportamental, e com isso trabalhar em conjunto com a família e demais especialistas.

  4. O tema abordado é Magnífico, pois se trata de uma ciência que foi aprovada por muitos especialistas e que possue eficácia no tratamento do autismo. Parabéns pela abordagem e pelo excelente trabalho de pesquisa que só tem a contribuir para o avanço da educação inclusiva.

  5. Excelente essa revista e tambem o artigo dobre o ABA a nós trazer possibilidades de auxiliar os alunos e as familias em seus cotidianos.

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