Experiências

Minha Experiência/Relação com a Escrita


EXPERIÊNCIAS E PRÁTICAS: RELATO DE EXPERIÊNCIA – Minha Experiência/Relação com a Escrita

 

Nícolas Xavier da Silva: nasceu em 29 de agosto de 2007, na cidade de Brazlândia-DF, filho de Sansão Barbosa da Silva e Lidiane Moacir Xavier da Silva. Desde aproximadamente os dois anos de idade, sua mãe percebia que seu desenvolvimento não estava adequado para sua idade. Após uma profunda investigação e vários exames, Nicolas foi diagnosticado com dupla excepcionalidade, TEA com ALTAS HABILIDADES. De acordo com os testes aplicados e com o parecer dos profissionais que o acompanhavam, as altas habilidades seriam na área de exatas, o que justificava a dificuldade na comunicação e alfabetização. Porém, ele surpreendeu a todos, e passou a se interessar pela leitura e escrita. Em 01/11/2023, realizou o sonho de lançar seu livro: Astro Guardiões, A busca das dez fontes. O lançamento foi no CED INCRA 08, escola em que estuda, atualmente cursa a 2ª Série do Ensino Médio. Entrou na rede pública no 6°ano, em 2019. Desde o início teve atendimento na sala de recursos e é acompanhado por ESV Acompanhamento médico e terapêutico desde os 7 anos de idade.


1. QUEM É NÍCOLAS XAVIER DA SILVA

Conheça Nícolas Xavier da Silva, um jovem autor com diagnóstico de TEA (Transtorno do Espectro Autista) e altas habilidades, aluno da rede pública de ensino do Distrito Federal. Desde cedo, Nícolas demonstrou uma imaginação singular e uma facilidade incrível para a escrita, transformando suas ideias em histórias ricas e instigantes. Com uma percepção sensível do mundo e uma mente criativa, ele encontra na escrita um meio poderoso para se expressar e compartilhar sua visão única, enriquecendo a vida de todos ao seu redor.

A leitura e a escrita desempenham um papel essencial na vida de qualquer estudante, permitindo que eles explorem novas perspectivas, desenvolvam o pensamento crítico e ampliem seu universo de conhecimentos. Para Nícolas, essas habilidades foram mais do que ferramentas acadêmicas: tornaram-se sua ponte para o mundo, uma forma de dar voz às suas ideias e de encontrar seu lugar na sociedade. Ele se tornou um exemplo de que todos, independentemente de seus desafios, podem cultivar suas paixões e contribuir de forma significativa para o mundo.

Sua trajetória como escritor é um testemunho inspirador da força da inclusão e do reconhecimento de talentos diversos, mostrando que cada indivíduo possui habilidades únicas e histórias que merecem ser celebradas e ouvidas.

Palavras-chave: Altas Habilidades. Escritor. Autismo


2. EU, ESCRITOR

Para aqueles que não me conhecem, meu nome é Nícolas, mas alguns também me conhecem e chamam de Nick, Nicolau, “Velho” Nícolas e por outros nomes; sou autor do livro independente de fantasia e ficção científica Astro Guardiões: A Busca das Dez Fontes, que havia publicado no dia 1 de Novembro de 2023.

Me pediram para eu fazer um relatório sobre minha experiência/relação com a escrita e, já vou adiantar, mesmo eu sendo considerado “inteligente”, não foi fácil de educar (em questão de estudo mesmo) e muito menos para ensinar a ler e escrever, por incrível que pareça. Agora, como eu escrevi um livro, sinceramente, só

Deus sabe. Também que eu não gostava muito de ler, desde os dez anos, que foi quando eu ganhei um computador, eu praticamente nunca mais saí de casa, só às vezes. Eu até lia gibis, mas ler um livro, principalmente sem ilustrações, não era minha praia. Mas não demorou muito para eu ter interesse em escrever.

Quando eu ainda estava no 5° ano do II Ensino Fundamental, eu havia ganhado um livro em quadrinhos chamado Homem-Cão:Desgovernado, de Dav Pilkey (curiosidade: era o segundo volume, só li o primeiro depois), vou confessar que era um livro meio bobo, como boa parte dos livros do autor em si – apesar que são bons para os jovens entrar na leitura, como foi meu caso – , mas me deu inspiração para escrever. Achava que o terceiro volume não existia, então, fiz minha versão, que tenho guardado até hoje. Mostrei para meus amigos e familiares e eles gostaram. Eu até pensei em vender, mas eu estaria roubando a ideia de outro escritor. Então, tinha que ter uma ideia original.

A minha primeira tentativa foi um livro chamado Gameverse, que nunca foi lançado, que, em resumo, era um história com vários personagens de videogame lutando contra seres desconhecidos. Nunca publiquei porque, eu mesmo percebi, que a ideia usava muitos personagens famosos, ou seja, seria contra as regras de copyright, semelhante ao caso anterior, então, nunca publiquei, mesmo tendo o livro.

Eu deixei o assunto intacto por algum tempo indeterminado. No máximo, juntava ideias e desenhos, que sempre ficavam – tirando os desenhos – incompletos para escrever uma história e sempre percebia que faltava alguma coisa. E acredite, se quiser, foi exatamente assim que a ideia para o meu primeiro livro veio. Eu estava tentando procurar uma ideia original, enquanto meus desenhos ficavam na minha cama para pensar, até que eu fiquei de pé. Olhei para os desenhos com a mão no queixo e pensei alto: “E se eu juntar tudo”. Só para você ter ideia, as ideias não tinham nada haver uma com a outra, com desenhos medievais, científicos e outros. Mas, apesar de maluco, era uma maneira para eu me satisfazer de uma coisa que notava em boa parte das histórias: eu achava elas limitadas de ideias, apesar de quase todas serem profundas, pois achava que certos personagens e cenários não combinavam uns com os outros caso alguém quisesse inserir, afinal, um exemplo, um cavaleiro participaria de um filme da Segunda Guerra Mundial? Eu acho que não. Ou seja, o público tinha poucas maneiras de reimaginar sua história e mundo. Então, eu fiz um mundo tanto lógico quanto não lógico onde vários mundos se misturavam. Durou dois anos para escrever, foram mais de 340 páginas.

3. ASTRO GUARDIÕES:  A BUSCA DAS DEZ FONTES

Então, lancei esse primeiro livro que foi Astro Guardiões: A Busca das Dez Fontes, como disse no início. Vou dizer que penso em tornar esse livro em um livro editorial e com três volumes, mas são apenas ideias.

Uma coisa que acho interessante na escrita é como você acompanha os personagens, vendo-os crescer. Quando eu terminei de escrever o livro num domingo, confesso que deu vontade de chorar, pois parecia que via meus “filhos” crescerem. Parece algo besta, mas quem é escritor sabe do que eu estou falando. Pois você os desenvolve, cria empatia grande com eles, ver toda a jornada que passaram, para ser tudo finalizado na última página. Se for para descrever, a sensação seria semelhante a uma borda, o fim de tudo, como você morrer e saber que vai passar a eternidade no céu.

Outra parte que acho mágica nos livros é o poder da descrição. E, mesmo que alguns livros usem desse poder de maneira inadequada – principalmente neste século – não dá para negar sua eficácia. Vou dar um exemplo: “ O garoto vê alguém ao longe, uma garota, que ao se virar, dava a sensação de ela estar bem na sua frente. Sentiu seu corpo queimar sutilmente feito um fogueira, o coração batia mais rápido com impulsos que quase saíam do peito, sua cabeça virava um emaranhado de linhas desorganizadas”. Você se sente na pele do personagem, e, mesmo que escrito de maneira exagerada comparado ao que ocorre na vida real, dá a sensação mais próxima do que um personagem sente. Se fosse apenas “o garoto ficou apaixonado”, seria muito artificial, como você ver alguém de longe, sem saber o que ele sente. Esse poder da descrição pode ser aplicado a aparência, cenários, cenas, cheiro, temperatura, dor ou bênção, efeitos e vários outros (senão infinitos).

Os livros, diferente de filmes, séries e outras formas de mídia, tentam capturar o real, o fantasioso, o bem e o mal, a mente e o físico de maneira extraordinária. E não só isso; diferente da mídia, a pessoa sente, entende, ela necessita prestar atenção, levando uma empatia maior aos personagens, até mesmo os secundários e sem nome, como por exemplo, os proletas de 1984 de George Orwell. Sem levar em conta que expande o cérebro. Quando comecei a ler mesmo, minha memória, senso crítico e meu vocabulário expandiram. Não é a toa que é a fórmula ridiculamente fácil para ser esperto – não estou me gabando, isto é um fato: ler deixa as pessoas mais espertas do que pensam.

Apesar de já ter publicado um livro, que já era o meu sonho, acredito que eu tenha um objetivo maior. Sabe, as pessoas não leem esses dias, dizem que não tem paciência para ler um livro pequeno, mas, quanto tempo as pessoas ficam vendo “vídeos curtos” no Instagram, YouTube ou até mesmo no TikTok? Como diz o ditado: “nos tornamos aquilo no que contemplamos”. Queremos ser a fama, a fortuna, o famoso, a moda da internet, ou, nem isso, só num grupo de amigos. Mesmo que soa aleatório o que digo, percebi que a mente humana, sinceramente, é muito ignorante. Por causa do excesso de eletrônicos, nossos cérebros ficaram fracos e sem empatia. A mídia nos fez pensar mais em nós, mas menos nos outros. Está me acompanhando? Perfeito!

Eu uso celular e computador, é um vício que tento controlar a partir de vários hobbies, mas eu sinto que as pessoas…não, certeza que as pessoas abusam do uso. Não precisa apenas de celular ou de qualquer outro eletrônico para pensar assim, ruim e egoísta, política, fama, dinheiro, nós pensamos apenas no que é bom no mundo, e nunca olhamos o lado escuro. O homem foi à lua na Guerra Fria! A Lua! Algo que o ser humano achava impossível foi feito, porque? Porque ele quis! Porque você acha que não acabamos com a fome, a miséria, as guerras? Porque o ser humano ouve, não escuta, e muito, muito menos age. Por isso, também, não temos muitos avanços quanto antes.

E se você acha que eu estou exagerando, deixa eu te dar um exemplo de experiência própria. Ano passado, minha e outras turmas na escola, fomos assistir no auditório o filme O Pastor e o Guerrilheiro, que foi uma pré-estreia em boa parte das escolas. O filme era pesado, violento, mas também profundo, mostrando uma história real tanto na época do Regime Militar como no começo dos anos 2000. Mas qual era o problema? As pessoas ficavam conversando, muitas se cegando com o celular, tinha gente que brincava com o filme fazendo piada obscena, como gemendo numa cena de morte. No Maio Laranja deste ano, foi a mesma coisa. Tinha gente que nem ligava para o assunto de abuso infantil e nos vários relatos ditos até mesmo por vitímas ao vivo e muitas ficavam rindo. Eu tento ajudar as pessoas em sala, mesmo que eu soa grosseiro, pois é verdade! Mas a minha maior agonia é pensar que as pessoas nunca vão escutar, só ouvir. E acredite, tem grande diferença.

Com motivação, eu estou escrevendo a Casa do Chapeleiro, e não, não tem nada a haver com o Chapeleiro Maluco (afinal, como o termo “chapeleiro” é pouco usado, é fácil se lembrar do personagem em si). Não vou falar muito da narrativa, pois alguém pode roubar a ideia, mas se trata de um livro ergódico – não, não tem nada haver com gótico – que é um livro que pode ser lido de diferentes formas, os layouts e formas das palavras se bagunçam ou formam imagens, ou seja, tipo Ulysses ou Casa de Folhas. Na história, que terá cinco pontos de vista e um sexto em terceira pessoa, cada personagem mostrará suas qualidades, defeitos, traumas e problemas atuais. Eu tentarei argumentar mais sobre a moral e também sobre a religião, ambos lados que existem, ou pelo menos coexistem, a vários séculos.

Não sei se esse livro vai sair algum dia, eu planejo que sim. Mas, se for para prever uma data, eu não tenho certeza, é possível no ano que vem, 2025, ou no ano seguinte, pois é possível que seja um livro grande.

 

Uma coisa que acho interessante na escrita é como você acompanha os personagens, vendo-os crescer. Quando eu terminei de escrever o livro num domingo, confesso que deu vontade de chorar, pois parecia que via meus “filhos” crescerem. Parece algo besta, mas quem é escritor sabe do que eu estou falando…

Nícolas Xavier da Silva

 

Para finalizar, para entender meu raciocínio, vou deixar uma citação que o autor, George Orwell, após publicar 1984 –uma distopia que, em resumo, o Partido sempre fica vigiando você –, deixou antes de morrer.

 

“‘No nosso mundo, não haverá quaisquer emoções, exceto o medo, a raiva, o triunfo, e o auto-rebaixamento […] não haverá qualquer lealdade exceto a lealdade para com o Partido, mas sempre haverá a intoxicação pelo poder. Sempre, a todo o momento, haverá o entusiasmo da vitória, a sensação de espezinhar num inimigo que está indefeso. Se quer uma imagem uma imagem do futuro, imagine uma bota a espezinhar uma cara humana…para sempre!’1

George Orwell


1 Esse texto está presente no livro 1984) A moral, a ser retirada desta perigosa situação de pesadelo, é uma simples: Não a deixes acontecer. Depende de ti”


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