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Locução: Lunna Mara
Luciana Reis, graduada em Matemática,especialista em Educação inclusiva, atuou como docente por 32 anos na rede pública e privada de ensino do Distrito Federal. Os últimos 12 anos na rede pública atuou em Sala de Recursos Multifuncional . Atualmente, desenvolve, em parceria com Espaço de Cultura Garcia Lorca de Brasília, a língua inglesa em alunos com necessidades especiais
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), a deficiência intelectual (DI) é uma condição clínica caracterizada por limitações evidentes no funcionamento intelectual que inclui o raciocínio, planejamento, resolução de problemas, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendizagem rápida e a partir de experiências e no comportamento adaptativo, este último expresso como habilidades adaptativas conceituais, sociais e práticas e as limitações devem estar presentes antes dos 18 anos.Tais restrições interferem nas habilidades escolares por serem fatores ligados à aprendizagem e à autonomia da vida comum.
Em sala de aula é possível o professor perceber limitações no processamento de informações, no raciocínio, na memória e na velocidade de aquisição das aprendizagens. Para uma inclusão escolar e social exitosa faz-se necessário um olhar minucioso para as capacidades e especificidades do aluno, bem como para as diversas possibilidades de aprendizagens. Sendo assim, a segunda língua surge como um instrumento facilitador e capaz de estimular novas conexões cerebrais,melhorando significativamente a capacidade de aprendizagem deste indivíduo. Ou seja, ao aprender uma nova língua, o cérebro executa funções de relação, de comparação e de atenção, essas funções privilegiam a plasticidade cerebral que é tão importante para alcançar a qualidade de vida.
A necessidade de comunicação é fundamental para a existência humana. Fazemos uso da linguagem e desde muito cedo conseguimos expressar sentimentos, opiniões e necessidades. O mundo globalizado colocou em evidência a necessidade de conhecer a língua inglesa, hoje entendida como língua universal, comercial, e relevante para a aquisição de aprendizagens e conhecimentos. A língua inglesa, por exemplo,tem se propagado em diversas áreas da nossa vida e já faz parte da rotina diária de muitos brasileiros, está presente em um grande número de músicas, de filmes, de objetos eletrônicos, de alimentos e produtos, além disso, é a língua estrangeira adotada e trabalhada nas escolas, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394 (BRASIL, 1996) e por conseguinte a que mais se adequaria como opção a ser utilizada.
“Os bilíngues são um verdadeiro modelo de controle cognitivo”, diz a cientista Judith F. Kroll, da Universidade Estadual da Pensilvânia. Segundo ela, a capacidade de memorizar mais de uma língua ao mesmo tempo e a habilidade de alternar entre elas na hora certa é um exemplo de exercício mental intenso.
Uma criança bilíngue, por exemplo, tem de escolher entre os idiomas que conhece para se comunicar em situações específicas. Isso faz com que o seu cérebro esteja em exercício continuamente, desenvolvendo, assim, a sua capacidade de gerir com eficiência os chamados processos cognitivos superiores, tais como resolução de problemas, memória e raciocínio lógico. Isso também aumenta a sua habilidade de filtrar as respostas, tornando sua mente mais flexível e ágil.
O cérebro é o órgão da aprendizagem, e devido a sua plasticidade é capaz de modificar-se e reorganizar-se de acordo com estímulos e atividades coordenadas que possuem objetivos definidos, por isso, estimular a função executiva e a memória de trabalho possibilitam o aprimoramento da capacidade intelectual e da comunicabilidade.
Portanto, o ensino de uma segunda língua, com material didático adequado, que possui sequência lógica e imagens, é capaz de estimular a plasticidade cerebral, e também permitir o aprimoramento de novas experiências e habilidades através da interação entre os pares de forma eficiente, e, além disso, viabiliza a autonomia do aluno nas mais diversas esferas sociais e acadêmicas.
Consideramos material didático adequado todo material elaborado para amenizar as características que influenciam de forma negativa o processo de aprendizagem, tais como dificuldade de compreensão, memória e raciocínio lógico, além de levar o aluno a um estado de motivação e emoção que adicionado ao fazer pedagógico, o faça adquirir certa autonomia.
Em alunos com dificuldades de aprendizagem, o grau de dispersão apresenta-se de maneira frequente significativa, assim é inegável que a dispersão interfira no grau de compreensão, dessa forma, pretende-se que este material,usado de forma coordenada, oriente o raciocínio de forma clara e concisa, facilitando o entendimento do aprendiz. Por isso, é necessário criar espaços, fazer uso de imagens e formatos de atividades que organizem o raciocínio e a memória, conduzindo e ajudando o aluno a praticar e usar os conteúdos aprendidos nas práticas sociais.
Por fim, diversas possibilidades tem se apresentado ao longo de todo processo inclusivo, há muitas práticas ainda não reveladas, e, também, muitas pesquisas voltadas para efetivação da aprendizagem significativa. Assim, afirmamos que o ensino de uma segunda língua pode se constituir em um importante instrumento de aprendizagens e que as suas características peculiares capacita o cérebro para memorização, para o raciocínio lógico e matemático.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
BIALYSTOK, Ellen, MCBRIDE-CHANG, Catherine; LUK, Gigi. Bilingualism, biliteracy and learning to read: interactions among languages and writing systems. Journal of Educational Psycology. p. 43-61, set. 2005.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional Nº 9.394. Brasília, DF, 20 dez. 1996.
GRAY, Kylie; KIRK, Hannah; RIBY, Deborah Magdalena; CORNISH, Kim. Cognitive training as a resolution for early executive function difficulties in children with intellectual disabilities. Research in Developmental Disabilities, v. 38, march, 2015. p. 145-160. Disponível em :<https://www.sciencedirect.com/science/article /abs/pii/S0891422214005319?via%3Dihub>. Acesso em: 20, ago. 2020.
MANUAL DE DIAGNÓSTICO E ESTATÍSTICAS DAS PERTURBAÇÕES MENTAIS – DSM 5. EUA, 18, maio, 2013. Disponível em: <https://www.psychiatry.org/psychiatrists/practice/dsm>. Acesso em: 20 out. 2019.
NICOLAIDES, Christine Siqueira. A busca da aprendizagem autônoma de línguas no contexto acadêmico. (Tese de doutorado). Porto Alegre: UFRGS, nov. 2003.
VYGOTSKY, Lev Semyonovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4.ed., São Paulo: Martins Fontes, 1996.
TEORIAS DE JEAN PIAGET. Portal de Educação. Artigo. São Paulo, 22, abr. de 2013. Disponível em: <https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/esporte/teoria-de-piaget/45255>. Acesso em: 22 out. 2019.
O QUE ACONTECE COM SEU CÉREBRO QUANDO VOCÊ APRENDE UM NOVO IDIOMA? Disponível em:<https://www.tecmundo.com.br/produto/139785-acontece-cerebro-voce-aprende-novo-idioma.htm>. Acesso em: 22, out. 2019.
SER BILÍNGUE PODE REESTRUTURAR O SEU CÉREBRO. Disponível em: <https://blogdointercambio. stb.com.br/ser-bilingue-pode-reestruturar-seu-cerebro/>. Acesso em: 12, ago. 2020.
Como citar:
PEREIRA, Luciana Reis. Aprender um novo idioma fortalece as funções cognitivas. In: Revista Sala de Recursos, v.1 n.1 p.13 – 16, set. – dez. 2020. Disponível em: <http://www.saladerecursos.com.br>. Acesso:
Atividades desenvolvidas por ENNE,s durante o curso de Inglês para pessoas com necessidades especiais na escola de línguas Garcia Lorca, no período de 2019-2020
Figura 2: Demonstra cena de aula de inglês para dois alunos com idade de 10 e 11 anos, sendo o primeiro aluno do lado esquerdo autista, ele está com uma caneta de quadro branco na mão direita e realiza atividade de inglês sobre alimentos, o segundo aluno encontra-se do lado esquerdo da fotografia, tem Síndrome de Down, encontra-se debruçado na mesa com olhos concentrados na atividade que o colega realiza. Tal atividade está projetada no tampo de uma mesa de fórmica branca, os alunos estão debruçados nesta mesa, imersos dentro de sua atividade, na qual necessitam numerar alimentos de acordo com uma lista de nomes que se encontra do lado esquerdo da projeção.
Figura 3: A atividade projetada é um caça palavras com as letras na cor preta sobre frutas em inglês ,é possível visualizar que o aluno já encontrou algumas palavras como ( papaia, banana, melon e pineapple) e ele as circulou com caneta para quadro branco na cor laranja. O aluno olha atento para o caça-palavras.
Figura 4: A aula projetada tem a figura de um limão verde cortado em pedaços no lado direito, no lado esquerdo tem perguntas em inglês, o aluno já respondeu algumas delas.
Figura 5: A aula projetada tem imagem do rosto de cinco índios de pele avermelhada, e setas para que o aluno nomeie as partes do rosto indicada, algumas letras foram colocadas como dicas no espaço de resposta e o aluno tem que completá-la.
Excelente material!
Obrigada. Sempre que pudermos utilizar instrumentos e materiais capazes de estimular a plasticidade cerebral teremos bons resultados no processo de aprendizagem.Luciana Reis.
Um bom material como fonte de pesquisa e informação para o ensino especial e regular. Gostei muito!
Exatamente! A aprendizagem de uma segunda língua estimula diversas conexões cerebrais, sendo assim é um importante instrumento para todo aprendiz! Luciana Reis